A Operação Compliance Zero, deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta terça, (18) desencadeou uma crise de grandes proporções no Banco de Brasília (BRB) e reacendeu discussões sobre a influência política na gestão do principal banco público do Distrito Federal. O presidente da instituição, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo por decisão judicial por 60 dias, assim como o diretor de Finanças e Controladoria, Dário Oswaldo Garcia Júnior. As medidas atendem a pedidos da PF após buscas e apreensões na sede do banco.
A investigação tem ligação direta com o Banco Master e com o empresário Daniel Vorcaro, controlador da instituição financeira e alvo de outra operação policial recente por suspeita de fraudes em negociações de títulos de crédito. A PF apura se executivos investigados teriam mantido relação com dirigentes do BRB, especialmente no período em que o banco público demonstrou interesse em adquirir o Banco Master.
Em março deste ano, o BRB anunciou negociações para comprar 58% do Banco Master por cerca de R$ 2 bilhões. O negócio incluía a aquisição de 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais. O negócio chegou a ser aprovado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), mas foi barrado meses depois pelo Banco Central do Brasil, que alegou inconsistências e problemas de governança no banco privado. A decisão foi interpretada como um freio institucional a uma operação que já havia gerado forte desgaste político.
O Banco Master vinha sendo alvo de críticas por oferecer produtos de alto risco financeiro, como CDBs de rendimento elevado, fundos com baixa liquidez e operações lastreadas em precatórios. Após a negativa do Banco Central, o Master acabou sendo vendido a um consórcio privado liderado pela Fictor Holding Financeira, em novembro.
Com o afastamento de Paulo Henrique Costa, o BRB enfrenta um dos momentos mais delicados dos últimos anos. O banco, que é controlado pelo governo do Distrito Federal, exerce papel central na política e na economia local. Por isso, qualquer instabilidade em sua administração provoca impacto direto no Palácio do Buriti e na Câmara Legislativa.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), indicou para a presidência do BRB o servidor de carreira da Caixa Econômica Federal Celso Eloi de Souza Cavalhero. “Diante da deliberação judicial de afastamento do presidente do BRB, e em decorrência da necessidade da manutenção da normalidade dos serviços, e do desencadeamento de apurações internas e da prestação dos devidos esclarecimentos às autoridades monetárias e fiscalizatórias, entendi por bem indicar o nome do servidor de carreira…”, afirmou o governador.
O episódio levanta suspeitas sobre possíveis interferências políticas na tentativa de compra do Banco Master pelo BRB e fortalece narrativas da oposição sobre o uso do banco estatal como instrumento de poder. Em Brasília, a operação da PF já alimenta debates sobre governança, transparência e limites entre gestão técnica e influência política.
Além disso, o próprio BRB emitiu nota esclarecendo: “O BRB reforça que sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência, prestando regularmente informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central do Brasil sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master. A instituição reafirma seu compromisso com a ética, a responsabilidade e a integridade na condução de suas atividades. O banco segue operando normalmente, garantindo a continuidade integral dos serviços e preservando a segurança das operações, dos clientes, dos parceiros e de toda a sua estrutura operacional.”
O caso também ocorre em meio à preparação para o cenário eleitoral de 2026. A proximidade da disputa aumenta o peso político da crise no BRB, que deve virar pauta de discursos, debates e investigações. A oposição tende a cobrar explicações do governo sobre o nível de participação de autoridades distritais nas tratativas com o Banco Master.
Além das repercussões políticas, o afastamento de parte da cúpula pode atrasar programas de crédito, projetos sociais e iniciativas econômicas que dependem do BRB. Também pode gerar insegurança entre servidores e clientes, afetando diretamente a imagem do banco.
A expectativa agora é que o GDF anuncie oficialmente a nomeação de Celso Eloi para a presidência do BRB e que novas etapas da investigação da Polícia Federal venham à tona. O caso permanece sob sigilo, mas já é considerado um dos episódios mais sensíveis envolvendo uma instituição pública do Distrito Federal nos últimos anos.





